Não é todos os dias que se encontra um fóssil com 6 milhões de anos. Mas esse dia aconteceu em outubro de 2017, quando a tripulação da embarcação “Manuel de Arriaga”, ao içar o aparelho de pesca na zona do Banco Açor, encontrou um objeto estranho: por um lado parecia feito de pedra e tinha um som metálico, por outro tinha a forma aproximada de um crânio de golfinho. O armador Jorge Gonçalves decidiu então mostrar o achado aos investigadores do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores. Começava assim a investigação que nos trouxe novos dados sobre a biodiversidade dos cetáceos dos Açores e sobre a História natural da região.
A inauguração, organizada pelo Observatório do Mar dos Açores, teve lugar no dia 11 de novembro, assinalando o Dia Internacional dos Museus e Centros de Ciência. O evento contou com a presença do palentólogo João Muchagata Duarte e do biólogo Rui Prieto, bem como do armador Jorge Gonçalves. Na palestra introdutória, os investigadores informaram o público presente sobre esta espécie de baleia-de-bico já extinta. Estes odontocetes (baleias com dentes) mergulham a grandes profundidades, usam a ecolocalização e são bastante esquivos, comparando com outros cetáceos. O fóssil foi identificado como pertencente à espécie Tusciziphius atlanticus, uma espécie que habitou o Atlântico na passagem do Miocénico para o Pliocénico, entre 3,6 a 7,3 milhões de anos atrás.
Depois de o indivíduo morrer, o seu corpo terá ficado depositado na encosta do Banco Açor, onde, numa primeira fase, terá sido devorado por tubarões e outros animais necrófagos, incluindo vermes marinhos que se alimentam de ossos. A atividade sísmica terá então soterrado o esqueleto da baleia. Muito tempo mais tarde e devido à ação de correntes marinhas, o crânio, agora já fossilizado, terá ficado novamente exposto. Este é o primeiro fóssil da espécie encontrado na região, sendo que os restantes foram registados na costa ocidental da Península Ibérica (quatro) e um na costa oriental dos Estados Unidos da América. A datação deste fóssil (idade máxima estimada de 6 milhões de anos) foi calculada com recurso a cruzamento de dados geológicos, químicos e outros.
Nota especial para a intervenção de Jorge Gonçalves, que alertou para a importância de fomentar a cultura científica marinha da comunidade regional, sublinhando que esta foi importante para que a tripulação pudesse reconhecer a importância desta descoberta. Salientou ainda que este género de achados só se torna relevante quando partilhado com a comunidade científica e que deve ficar disponível para usufruto e conhecimento do público em geral. Estas palavras adquirem particular significado no mês em que se celebra o Dia Internacional da Cultura Científica (24 de novembro), que o Governo Regional assinala com a promoção do Mês da Ciência, através da Direção Regional da Ciência e Tecnologia, realizando ações em todas as ilhas.
O fóssil integra agora a exposição permanente do Museu da Fábrica da Baleia de Porto Pim, podendo ser visitado durante o seu horário de abertura (época baixa: dias úteis das 10h às 17h). A entrada é gratuita para os habitantes da Região Autónoma dos Açores.